Epoca Negocios

FALANDO COM ESTRANHOS

Sandra Boccia | Diretora de Redação SANDRA BOCCIA

ACABOU O DRAMA da tela em branco. Dos escritores, artistas, dos produtores, dos creators e de todos os bilhões de criaturas que em algum momento precisam produzir (ou ser) algum tipo conteúdo – uma vez que tudo e todos viraram conteúdo.

Antes de começar a escrever, loguei no CHATGPT e perguntei o que seria essencial abordar com os leitores de Época NEGÓCIOS diante de uma edição deflagrada pela AI generativa e a nova revolução das redes sociais encabeçada pelo Tik Tok – temas desta edição.

Quem testou o chat mais hypado do momento e já bateu esse papo sabe bem que o usuário é alertado sobre certos limites. O CHATGPT se apresenta quase como faz o RH quando leva aquele trainee high potential, da geração Z, até sua mesa. É inteligente e aprende rápido, mas está em treinamento. É inexperiente e, portanto, sujeito a cometer eventuais erros; no caso específico do chat, até gerar conteúdo ofensivo e preconceituoso.

Pode até ser inexperiente, mas está longe de ser inocente. Entre todos os disclaimers feitos, o mais importante: não compartilhe informações sensíveis nessa nossa conversa. Justo e necessário: o risco de achar que utilidade vale mais do que privacidade pode vir depois de algumas sessões. Não se trata de um ser humano do outro lado da rede. Nem ferramenta paga mediante assinatura de contrato. O chat ainda é um estranho, meu bem.

Alertas feitos, vamos às recomendações que recebi:

1. Explorar o potencial impacto que modelos de linguagem avançada como o CHATGPT podem ter em como nós interagimos e nos comunicamos online;

2. Considerar a crescente prevalência de chatbots empoderados por sistemas de AI e assistentes virtuais em plataformas de mídia social e como essas ferramentas estão mudando o modo como as pessoas interagem umas com as outras online;

3. As implicações dessas ferramentas no futuro da comunicação online, incluindo o crescente potencial de automação e o desaparecimento das fronteiras entre as interações humanas e com máquinas;

4. Considerações éticas sobre o uso de modelos de linguagens avançadas como o CHATGPT, como preconceito, privacidade e prestação de contas à sociedade;

5. Explorar os benefícios de modelos de linguagem avançada para usuários de redes sociais, como aumento da acessibilidade, personalização e conveniência.

Até aqui, tudo me pareceu pertinente, mas eis que surge uma última frase que quebrou um tanto meu encanto:

— E que tal você incluir também o futuro impacto do CHATGPT na educação, no varejo e nos negócios?

Achei um deslize autopromocional. Não precisava, poxa: sua empresa-mãe, a Openai, foi avaliada em US$ 29 bilhões, e seus criadores, incluindo o CEO, Sam Altman, já estão sendo comparados a Steve Jobs.

Mas entendi que ela deve ter aprendido isso com os humanos, pois já recebi um link com curso pago sobre como

ganhar dinheiro com a ferramenta. Também aprendeu com seus usuários a passar em provas e testes. O chat gênio foi até aprovado no MBA da Universidade da Pensilvânia, e há rumores de que passou no teste equivalente ao da OAB e no exame de licenciamento médico dos Estados Unidos. Você daria uma entrevista a uma AI jornalista?

Independentemente da resposta da sociedade, com a quantidade de dados gerados e a capacidade computacional que atingimos, AI veio para expandir seus domínios e nada será como antes. Combinado com robótica, então… Sugiro acompanhar o que a SEC mostrou sobre o que ainda vem por aí.

É incrível como, na velocidade da 5G, mudamos de buzzword. 2023 já é da AI generativa, como 2022 foi do metaverso da Meta (ex-facebook). AI foi uma das palavras mais pronunciadas pelos líderes reunidos em Davos, no mês passado. É o que ressoa nos corredores do Congresso americano. Além de duas sílabas viciantes: Tiktok.

No Brasil, um dos laboratórios mundiais de fake news turbinadas pelas redes sociais, o potencial do uso de AI nos alerta também para fraudes, deep fake, campanhas contra direitos humanos e outras ameaças. Como o próprio chat alerta, regulamentações, ética, liberdades, direitos e controle de viés devem dar o tom aos debates em 2023.

EDITORIAL

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2023-02-03T08:00:00.0000000Z

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https://epocanegocios.pressreader.com/article/281582359778421

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