Epoca Negocios

A MARCHA DOS UNICÓRNIOS

COMO OS FUNDADORES DAS EMPRESAS MAIS RADICAIS DO BRASIL CONSTROEM O FUTURO

CRISTIANE MANO

OTOPO DA LISTA DAS EMPRESAS mais valiosas do Brasil é dominado por uma monotonia que, por muito tempo, pareceu inabalável. Até o sino da B3 sabe que a mineradora Vale, a estatal Petrobras, o Itaú Unibanco e a fabricante de bebidas Ambev parecem sedimentadas entre as maiores companhias privadas do país.

A estreia do Nubank na bolsa, esperada para os primeiros dias de dezembro, depois do fechamento desta edição, pode mudar essa composição de maneira significativa. A abertura programada para acontecer na Bolsa de Nova York, mas com lançamento de títulos de ações (BDRS) na B3, deve elevar o banco a esse grupo restrito. A fintech, que nasceu há menos de dez anos, poderá atingir – de acordo com estimativas mais conservadoras – o valor de mercado de US$ 50 bilhões. Considerando a cotação atual do dólar, esse montante a coloca com folga à frente do Itaú Unibanco, banco com maior valor de mercado da América Latina (em torno de R$ 200 bilhões), e entre as quatro companhias brasileiras mais valiosas.

O fato tem significado além do vertiginoso sucesso, pelo menos até aqui, de um empreendimento isolado. É também a demonstração mais tangível do impacto que os unicórnios – empresas que atingem um valor de mercado acima de US$ 1 bilhão – podem ter no cenário de negócios no Brasil. Neste ano, o Nubank recebeu, em duas rodadas, o maior aporte individual já destinado a uma companhia na região – no valor de US$ 1,15 bilhão, o maior da história na América Latina.

O primeiro unicórnio brasileiro, o aplicativo de transporte 99, surgiu em 2017. Hoje já são 18, segundo a consultoria especializada Distrito (veja quadro). Dois deles foram anunciados em novembro – a Frete.com e a fintech Cloudwalk. De acordo com a definição original de unicórnio, criada pela investidora americana Aileen Lee, fundadora da Cowboy Ventures, em 2013, cabem nesse grupo apenas as companhias de base tecnológica que cresceram insufladas por capital de risco. Além dessas empresas, existem no país quatro Ipogrifos – a empresa de educação Arco, a de incentivos Meliuz, e as fintechs Pagseguro e Stone, empresas que atingiram o valor de mercado de US$ 1 bilhão após a abertura de capital.

Os dados mostram que esse ritmo deve continuar intenso. Apenas no segundo trimestre, os investimentos de risco em startups no Brasil somaram US$ 2,7 bilhões – 300% a mais em relação ao registrado no mesmo período do ano passado, segundo o relatório Venture Pulse, da consultoria KPMG. Nesse ritmo, além de novos unicórnios, o mercado começa a vislumbrar a chegada de mais decacórnios. “Uma empresa com valor de mercado de US$ 10 bilhões já é uma das 20 mais valiosas do país”, afirma Gustavo Araújo, cofundador e CEO da Distrito.

Num país que até agora viveu praticamente à margem do universo do capital de risco, estamos falando de um novo, novíssimo mundo. Em países desenvolvidos, o papel de fundos de venture capital no dinamismo da economia – e na própria mobilidade social – já é bem conhecido. Os 18 maiores fundos de venture capital e firmas de private equity nos Estados Unidos, entre eles Andreessen Horowitz, Blackstone, Carlyle, KKR e Sequoia, investiram em 843 companhias, algumas delas em estágio inicial, desde o ano 2000. Conjuntamente, elas valem hoje mais de US$ 10 trilhões.

Um cenário de liquidez global somado ao potencial transformador de novas tecnologias nos mais diversos setores está fazendo esses números se multiplicarem em todo o mundo. Mesmo em países com um ecossistema empreendedor consolidado, o fenômeno dos unicórnios está em rápida expansão. Entre 2003 e 2013, os Estados Unidos produziram apenas quatro unicórnios por ano. Hoje há mais de um unicórnio por dia no país. Apenas no segundo trimestre de 2021, 136 novos unicórnios surgiram, a taxa mais alta da história. Investidores dedicaram o montante

de US$ 156,2 bilhões a startups em todo o mundo no segundo trimestre de 2021, mais que o dobro do valor investido nesse período no ano anterior, de acordo com a empresa de informações CB Insights. Entre os investimentos, houve 390 megarrodadas de US$ 100 milhões ou mais, marcando uma nova alta histórica.

Há quem questione se não há uma bolha – ou apenas uma resposta à altura da velocidade das transformações tecnológicas e de comportamento dos consumidores. O único consenso é de que esse fôlego será resiliente a instabilidades econômicas mesmo em países como o Brasil. Para entender a razão, basta ver os resultados das empresas que fazem parte desse grupo – que inclusive encontraram impulso em meio à pandemia. Fintechs e proptechs ainda dominam a lista, com um terço dos unicórnios brasileiros. Outros setores, como educação e saúde, devem ganhar peso no futuro, como indicou uma carta aberta escrita neste ano pelo megainvestidor Douglas Leone, à frente do lendário fundo Sequoia. “A oportunidade de mercado está presente, e o ecossistema está pronto e estimulado”, afirmou Leone, em um artigo publicado na plataforma de blogs Medium, assinado com Sonya Huang, uma das sócias do time da Sequoia, em julho.

Mais do que as tendências setoriais, as histórias desses novos empresários – vistas de perto – mostram que as características mais onipresentes entre todos estão associadas a atitudes. Disposição para mudar. Coragem para assumir riscos. Flexibilidade. Vontade de aprender. Agilidade. Persistência. Resiliência. E um pé firme nos problemas reais – e em como resolvê-los. Nenhum deles tinha todas as respostas quando começaram. A trajetória de cada um, que pode ser lida nesta série de entrevistas, ajuda a mostrar as pessoas por trás dos números e os dilemas da vida real por trás da fantasia.

Para ilustrar cada uma das entrevistas, convidamos 17 artistas de habilidades diferentes para interpretar, cada um do seu jeito, uma mesma forma de unicórnio. Fotógrafos, artistas plásticos, ilustradores, diretores de arte, todos pensaram nas peças que ilustram esta edição. E que também estarão disponíveis numa plataforma de venda digital de NFTS (“Non-fungible Token” ou, em bom português, “tokens não fungíveis”), com um certificado digital que serve para garantir a autenticidade do arquivo. As obras estarão disponíveis para compra no site Opensea e, quando vendidas, o valor integral irá para o artista que a criou. Para isso, basta acessar o QR Code para ver a coleção de unicórnios feitos para Época NEGÓCIOS.

SUMÁRIO

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2021-11-30T08:00:00.0000000Z

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https://epocanegocios.pressreader.com/article/282127819754404

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