Epoca Negocios

João Barbosa, da GYMPASS

EMPRESA QUE VENDIA PASSES PARA ACADEMIAS TEVE DE SE REINVENTAR PARA NÃO FECHAR AS PORTAS NA PANDEMIA

AGYMPASS NASCEU COM a proposta de oferecer acesso rápido e desburocratizado a academias, sem obrigar os usuários a pagar todas as parcelas de planos semestrais ou anuais caso desistissem no meio do caminho. Começou vendendo frequências diárias às salas de ginástica, mas percebeu que passes mensais seriam mais práticos – e mudou. A experiência dos primeiros anos também mostrou que a venda direta para pessoas físicas estava sujeita a grandes oscilações, o que levou a uma nova correção de rumo da companhia, que passou a focar na venda para empresas interessadas em combater o sedentarismo dos funcionários. Deu certo – e a Gympass decolou em 2019 ao receber um aporte de US$ 300 milhões liderado pelo Softbank. Foi o que bastou para virar unicórnio. Veio então a pandemia de covid-19, e a sobrevivência da empresa entrou em xeque mais uma vez. Com o fechamento das academias, para reduzir a disseminação do vírus, a saída foi investir numa plataforma digital que agregasse programas de bem-estar às aulas de ginástica. Na entrevista a seguir, João Barbosa, um dos fundadores, explica as várias mudanças da Gympass.

ÉPOCANEGÓCIOS Comoocorreuamudança para uma empresa B2B?

JOÃOBARBOSA A nossa ideia inicial era ser uma empresa B2C, mas percebemos que a compra de atividade física é muito emocional e geralmente acontece às segundas-feiras, depois de um feriado ou no começo do ano. Da mesma forma como acontece com as academias, nós também estávamos com dificuldade para reter as pessoas nos programas, e era exatamente isso que queríamos evitar. Foi aí que surgiu o nosso primeiro cliente corporativo. A Price nos procurou porque queria reduzir o trabalho operacional do reembolso de academia para os funcionários. Nós estávamos quase sem caixa e topamos na hora. Demos um desconto para a Price, que subsidiava de 30% a 40% da mensalidade para o colaborador, e o resultado agradou a todos. Vimos que o modelo podia parar em pé, pois agregava valor para a academia e para a empresa, além de deixar os funcionários felizes. Aí surgiu nosso segundo cliente corporativo, a Unilever. A adesão dos funcionários da Unilever foi um sucesso, mas o contrato que fizemos não dava o retorno financeiro que esperávamos. Estávamos perdendo dinheiro, quase falindo, na verdade, e precisávamos renegociar. Conseguimos melhorar as condições, encontramos finalmente um modelo que era sustentável e conseguimos uma nova rodada de investimentos.

NEGÓCIOS Quando decidiram internacionalizar a empresa?

JOÃO BARBOSA Assim que encontramos esse modelo de parceria com as empresas. Nossa primeira opção foi investir no México, porque, se o modelo desse certo lá, provavelmente daria certo também em outros países da América Latina. O segundo passo foi a expansão para a Europa, que tem um mercado menos competitivo que os Estados Unidos. Compramos uma empresa que fazia a venda de passes diários na Espanha e começamos o nosso trabalho na Europa. Em um ano, já estávamos presentes na Inglaterra, França, Alemanha, Holanda, Itália e Portugal. Foi uma correria. Em seguida, voltamos para a América Latina e abrimos representações na Argentina e no Chile. A decisão de ir para os Estados Unidos veio em 2017. Foi uma aposta muito grande, porque se trata do maior mercado de atividade física do mundo. Hoje somos uma empresa global e nosso foco é garantir e consolidar a nossa operação. Investir em produtos, na experiência do usuário, em mais serviços, consolidar tudo o que construímos.

NEGÓCIOS A oferta de novos serviços já estava programada ou foi decidida com a pandemia?

JOÃOBARBOSA Estava programada, mas a pandemia acelerou o processo. Sempre acreditamos que oferecer serviços de bem-estar mental, de nutrição e de apoio psicológico tinha tudo a ver com a Gympass, mas sabíamos que isso poderia provocar também uma dispersão de foco. Com a pandemia, o cenário mudou e deixamos essa cautela de lado. Eu morava na Itália no início da pandemia e vi que a coisa era muito séria, o vírus iria parar o mundo inteiro. Com as academias fechadas, nosso produto perdeu mercado de um

COM O FECHAMENTO DAS ACADEMIAS, A EMPRESA VIROU PLATAFORMA DIGITAL E AGREGOU VÁRIOS

NOVOS SERVIÇOS

dia para o outro. Ou seja: se não mudássemos o modelo de negócio, iríamos fechar as portas. A solução que enxergamos foi transformar a Gympass em uma plataforma de bem-estar, que também oferecesse programas de meditação, apoio psicológico, ioga, nutrição saudável e de ajuda a quem quisesse parar de fumar. Sem prejuízo das aulas de ginástica, que continuariam a ser disponibilizadas, só que remotamente. Criamos a plataforma de personal trainer, na qual cadastramos mais de 2 mil profissionais, para auxiliar as pessoas que estavam em casa a se exercitar. Em questão de dois meses, implantamos um marketplace onde as pessoas em quarentena podiam acessar 150 serviços diferentes em todo o mundo. Todas as empresas viram a

Gympass como um parceiro estratégico nesse momento difícil, em que precisavam dar suporte aos funcionários. No final, a gente conseguiu auxiliar as empresas, os colaboradores dessas empresas e os profissionais que fazem parte do nosso ecossistema a manter uma renda mínima e sobreviver em todo esse percurso da pandemia. Foi uma empreitada nova e desafiadora para todo mundo. A pandemia trouxe a percepção de que a saúde mental e a saúde física das pessoas importam muito, não é só a produtividade de curto prazo. A Gympass começou com um trabalho de formiguinha para criar essa consciência, oferecer essa oportunidade e trazer um assunto que é tão importante, o de olhar para as pessoas com mais responsabilidade e empatia.

NEGÓCIOS Há até serviços financeiros na plataformaagora.vocêsqueremsetornar um superapp? Virar decacórnio? JOÃO BARBOSA Nossa missão continua a mesma: tornar a atividade física e o bem-estar acessível a todos. Virar decacórnio não mudaria esse princípio, mas reafirmaria que estamos no caminho certo e impactando mais pessoas. É uma consequência do trabalho e de focarmos muito na nossa missão. Um objetivo mais real é aumentar nossa base de clientes, porque ainda são poucas as empresas que oferecem Gympass. Nosso desafio é convencer mais gente de que a prática de atividades físicas, além de saudável, pode ser prazerosa. Estamos trabalhando muito para oferecer serviços cada vez mais numerosos e acessíveis.

SUMÁRIO

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2021-11-30T08:00:00.0000000Z

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