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UM AVIÃO? UM HELICÓPTERO? É UM CARRO VOADOR

Com um produto completamente novo, a fábrica de startups da Embraer começa a provar que é capaz de competir globalmente em mercados disruptivos

A promessa de inovação mais radical na mobilidade urbana hoje atende pelo nome de “carro voador”. O termo não é lá muito adequado, mas é assim que vêm sendo chamadas as novas aeronaves de empresas como a Eve, startup desmembrada da Embraerx, braço de inovação da fabricante brasileira de aviões. A máquina, também chamada de EVTOL – sigla em inglês para veículo elétrico de decolagem e pouso vertical –, é uma mistura de helicóptero e avião. Como o helicóptero, decola e pousa na vertical. Como o avião, tem asas e múltiplos motores. Desse modo, o EVTOL desliza no ar, enquanto o helicóptero depende de uma só hélice. Diferentemente de helicópteros e aviões, é silencioso – graças aos motores elétricos.

Não emitir ruídos ensurdecedores faz toda a diferença para os planos da Eve e de suas rivais de revolucionar a mobilidade urbana. O EVTOL deve funcionar como uma espécie de táxi capaz de cruzar silenciosamente os céus de grandes cidades, por um preço próximo ao de uma corrida de Uber Black. Sim, essa é a promessa. “O EVTOL é a peça que falta na mobilidade urbana”, afirma André Stein, CEO da Eve. “Hoje, uma pessoa vai de São Paulo ao Rio em menos de 50 minutos de avião. Mas pode gastar mais de uma hora entre o aeroporto e a sua casa.” Os primeiros EVTOLS da Eve começam a ser entregues em 2026, para atender a contratos selados em junho. Há 250 aeronaves encomendadas por clientes como a inglesa Halo, empresa de táxi aéreo de helicóptero, que opera na Inglaterra e nos Estados Unidos. Também em junho, a confirmação de que a startup brasileira está negociando fusão com a Zanite, uma SPAC (empresas que abrem capital em bolsa e depois saem à procura de uma aquisição), fez as ações da Embraer dispararem 15% em um único dia. Especialistas no setor estimam que até 2035 haverá uma frota global de 50 mil EVTOLS circulando pelos céus de cidades como São Paulo, Nova York, Londres, Tóquio e Cidade do México.

Startups que se lançaram na corrida pelo EVTOL já começam a valer bilhões. A americana Joby está entre as mais avançadas em testes com protótipos de tamanho real. Com investimento da Toyota, Uber e da Blackrock, a Joby anunciou que seus primeiros EVTOLS chegarão ao mercado em 2024. No início do ano, a empresa anunciou a fusão com uma SPAC, o que elevou seu valor para mais de

US$ 6 bilhões.

O carro voador é o primeiro resultado prático da Embraerx no mercado. A divisão, criada em 2017 para estudar novos mercados, leva em conta o aprendizado histórico de grandes corporações que mataram novos negócios no nascedouro. A falta de ideias não costuma ser um problema para corporações gigantes, como diz o especialista Nitin Nohria, reitor da escola de negócios da Universidade Harvard de 2010 a 2020, num artigo recente. A americana Eastman Kodak, nos anos 1980, por exemplo, gestou diversos bons projetos (inclusive o primeiro protótipo de uma máquina fotográfica digital de que se tem notícia). Mas não conseguiu se desvencilhar das amarras de seu gigantismo para fazê-los florescer.

A Embraerx, com vida própria, introjetou na Eve o DNA da colaboração desde o início. Em sua origem, o projeto foi desenhado em parceria com a Uber Elevate. Para trabalhar no desenvolvimento de um sistema de controle aéreo urbano – que pode acelerar a inclusão do novo tipo de veículo no marco regulatório da aviação, uma pendência fundamental para que passe a fazer parte da rotina de grandes cidades –, a empresa está trabalhando com a Atech, comprada pela Embraer em 2013 e fornecedora dos softwares usados pelos controladores do espaço aéreo brasileiro. Mas conviver com o risco de falhas faz parte do jogo – e isso é tão mais verdade quanto mais ambiciosa for a meta de disrupção. A X (ex-google X), braço de inovação da gigante de tecnologia, já anunciou o encerramento de projetos que consumiram milhões, como os estudos para lançar a internet via balões estratosféricos. Em meio a fracassos, há casos como o da startup Deepmind, especializada em machine learning, e considerada um dos maiores sucessos da divisão. No caso dos carros voadores, por enquanto, a Embraer já mostrou que está no jogo para valer.

COLABORAÇÃO O E UM AVIÃO? UM HELICÓPTERO? É UM CAR

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2021-09-01T07:00:00.0000000Z

2021-09-01T07:00:00.0000000Z

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