Epoca Negocios

DE MÃOS DADAS COM AS RIVAIS

Empresas do mesmo setor começam a se unir como investidoras em fundos de venture capital tradicionais ou em fundos compartilhados

O crescente interesse das empresas pelas startups começa a resultar em um fenômeno curioso. Algumas delas passaram a engrossar o grupo de investidores em fundos de capital de risco convencionais, em especial os dedicados a setores específicos. A lista só cresce. No SP Ventures, criado em 2007 e especializado no ramo de agronegócios, metade dos recursos sob gestão já vem de empresas do setor, como Syngenta e Basf. “É uma tendência mais recente e um sinal de maturidade das empresas, que começam a aprender e a colaborar, além de competir”, afirma Francisco Jardim, cofundador do fundo. O mesmo acontece em setores mais tradicionais – e que até pouco tempo atrás não eram vistos como terreno fértil para startups no país. Criada no começo de 2020, a catarinense Terracotta Ventures dedica-se a construtechs e proptechs (esta última deriva da palavra property, ou propriedade, em português). A meta é captar R$ 100 milhões até o fim de 2021 para investir em até 20 startups, no prazo de quatro anos. O fundo já conseguiu despertar o interesse da incorporadora Cyrela, da siderúrgica Gerdau e, em agosto, também da Vedacit, fabricante de materiais como impermeabilizantes e argamassas. Todas elas já são donas de fundos de venture capital próprios. Mas também há outras menores espalhadas pelo país, como as construtoras TGB, do Rio de Janeiro, e Fontana, de Santa Catarina. Entre as empresas investidas, está a Yuca, que nasceu em julho de 2019 para fornecer moradias compartilhadas, ou colivings. A Yuca reforma apartamentos com grandes metragens na cidade de São Paulo e loca cada quarto para um morador. A Livance é outro exemplo. A startup oferece consultórios compartilhados por médicos e outros profissionais da saúde. O surgimento de unicórnios no setor, como Quinto Andar e Loft, ajudaram a despertar o interesse pelo segmento, de acordo com Loreto. Tanto a SP Ventures como a Terracotta concentram os aportes nos estágios seed e série A, com cheques entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões. Nessa fase, o risco de fracasso costuma ser maior. Por outro lado, em caso de sucesso, o potencial de valorização é exponencialmente superior. Jardim cita o caso da Brain Ag, a primeira saída de uma startup de agro do país, realizada em 2020, com quase 90% de taxa interna de retorno e mais de 600% de retorno absoluto. A Brain Ag é uma empresa especializada em data science para suporte de tomada de decisões de crédito agrícola e tem como objetivo derrubar a complexidade do crédito agrícola. “As companhias não participam das decisões de investimento”, diz Jardim. “Mas podem se beneficiar duplamente dessa experiência – tanto do ponto de vista do ganho financeiro como da possibilidade de conhecer antes uma ideia que pode somar à sua estratégia de crescimento e inovação.” Com o mesmo objetivo, em outros setores, rivais se unem para cocriar do zero iniciativas compartilhadas. É o caso dos grupos Fleury e Sabin, de medicina diagnóstica. Em novembro, as duas empresas rivais anunciaram a criação do Kortex Ventures, com R$ 200 milhões para investir em novas empresas. A ideia é realizar entre 15 e 18 investimentos até 2024 em companhias que possam trazer novidades na área da saúde e sinergias com seus negócios. Sobre o futuro dessas startups, não existe regra predefinida. Elas podem ser simplesmente vendidas após alguns anos, adquiridas por Fleury e Sabin ou simplesmente seguir seu caminho de forma independente, com as duas corporações como sócias.

CAPA CORPORATE VENTURE CAPITAL

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2021-09-01T07:00:00.0000000Z

2021-09-01T07:00:00.0000000Z

https://epocanegocios.pressreader.com/article/282063395069374

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