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ELE LUCRA COM BITCOINS, MAS NÃO COMO OS OUTROS

A FINTECH DE ZAC PRINCE OFERECE SERVIÇOS FINANCEIROS LASTREADOS EM CRIPTOMOEDAS. EM 2021, TORNOU-SE SÉRIA CANDIDATA A DECACÓRNIO

Zac Prince lucra com criptoativos de forma única – e tornou sua Blockfi uma candidata a decacórnio

EMBORA JÁ ACUMULASSE UMA BOA experiência em empresas de tecnologia, principalmente em fintechs de empréstimos online, o norte-americano Zac Prince estava insatisfeito com o rumo da carreira. Aos 29 anos, tinha a sensação de que estava deixando escapar a oportunidade de enriquecer com criptomoedas, cujas cotações não paravam de subir. Naquela altura, 2017, ele era apenas um pequeno investidor em moedas digitais. Foi quando dois fatores se juntaram e o fizeram pedir demissão para empreender.

O primeiro fator, que já se estendia há meses, era a impaciência de sua mulher com as lamentações do marido. De tanto ouvi-lo sobre o desejo de surfar na onda das criptomoedas, ela passou a obrigá-lo a falar menos e agir mais. O segundo fator foi a recusa de um banco em aceitar as criptomoedas do casal como garantia para uma hipoteca. “Eles achavam que eu poderia estar envolvido em atividades ilícitas”, conta Prince.

Foi o estalo que faltava para que ele fundasse a Blockfi com a colega Flori Marquez, que assumiu a vice-presidência de operações da fintech. Antes de fundar a Blockfi e virar CEO da própria empresa, Prince, formado em negócios internacionais pela Universidade do Texas, atuou como executivo de duas aquisições importantes: a da Admeld, comprada pelo Google, e da Sociomantic, adquirida pela Dunnhumby. Também coordenou equipes na corretora Orchard Platform e nas startups de empréstimos online RIA e Zibby. Flori fez carreira na mesma área, ajudando a construir um portfólio de US$ 125 milhões para a Bond Street, adquirida pelo Goldman Sachs.

No início, a Blockfi atuava apenas na oferta de empréstimos lastreados em criptomoedas, mas, à medida que a empresa ganhou a confiança dos clientes, passou a oferecer cheque, poupança e cartões de crédito em parceria com a Visa. No ano passado, com a valorização exponencial das criptomoedas – que continua na mesma toada –, a Blockfi disparou. Apenas

ZAC PRINCE TEVE A IDEIA DE CRIAR A BLOCKFI QUANDO UM BANCO RECUSOU SUAS CRIPTOMOEDAS COMO GARANTIA DE FINANCIAMENTO NA COMPRA DE UMA CASA

entre 2019 e 2021, a receita anual saltou da casa de US$ 65 milhões para US$ 500 milhões, e os ativos sob sua gestão subiram de US$ 1 bilhão para US$ 15 bilhões, com a adesão de empresas, fundos e investidores que perderam o medo de ver as moedas digitais virarem pó.

Em março deste ano, a Blockfi foi avaliada em US$ 3 bilhões, ao receber um aporte de US$ 350 milhões em rodada de investimentos liderada por Bain Capital Ventures, Pomp Investments, Tiger Global e parceiros do DST Global. Isso significa crescimento de 600% em relação a agosto de 2020. Há rumores de novos aportes, de acordo com um relatório da publicação de tecnologia The Information.

A perspectiva é que a captação de novos negócios eleve o valor de mercado da Blockfi para US$ 5 bilhões ainda este ano. “Nossa base de clientes cresce no mesmo ritmo. Em 2020, aumentou dez vezes, e a estimativa é que este ano cresça oito vezes”, diz Flori. Segundo ela, a empresa passou de 10 mil clientes em 2020 para 265 mil este ano.

“Zac é muito persistente. Não é fácil abrir algo novo assim com os agentes reguladores batendo na sua porta todo dia. Tem muito lobby contra um competidor dos bancos tradicionais como a Blockfi”, diz Raymond Nasser, gestor de uma carteira prestes a virar um fundo de investimentos e CEO da Arthur Mining, empresa de mineração de bitcoins. Apesar de o potencial da Blockfi ser grande, Nasser observa que a empresa terá de oferecer taxas mais competitivas aos investidores, manter-se atenta aos novos competidores e lidar com zonas cinzentas de regulação. Há regras a serem definidas na relação da fintech de Prince e Flori com o mercado de criptomoedas em geral e com o setor financeiro tradicional. “Isso pode amarrar a empresa um pouco”, afirma.

Apesar de nenhum dos sócios falar sobre os planos futuros, perspectivas do mercado apontam que a Blockfi pretende abrir o capital nos próximos 12 a 14 meses – e, quem sabe, entrar para a lista dos decacórnios, as startups avaliadas em mais de US$ 10 bilhões.

PERSONA

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2021-09-01T07:00:00.0000000Z

2021-09-01T07:00:00.0000000Z

https://epocanegocios.pressreader.com/article/281689732914622

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