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Ruptura

EXECUTIVOS VÊM APOSTANDO NO CORPORATE VENTURE CAPITAL COM A VISÃO ERRADA – O QUE OS LEVA A APOSTAR EM STARTUPS CHEIAS DE POTENCIAL E MATÁ-LAS LOGO EM SEGUIDA

Muitos têm visão predatória de corporate venture capital – e acabam matando a inovação

INOVAÇÃO ABERTA é a modalidade em que os problemas a serem resolvidos pela empresa são compartilhados com parceiros (normalmente startups, mas não exclusivamente) para que, juntos, desenvolvam novas soluções, cada parte aportando o seu expertise. Em vez de a empresa tentar inovar sozinha, compartilha seus desafios com o ecossistema e desenvolve conjuntamente suas soluções. O conceito começou a ser difundido em 2003 após a publicação do livro Inovação Aberta, de Henry Chesbrough.

Numa estratégia de inovação aberta, são definidos objetivos, iniciativas, modelo de operação e indicadores de desempenho. Para cada objetivo estabelecido, há iniciativas mais ou menos adequadas. E, para o conjunto selecionado, há modelos operacionais recomendados e indicadores de desempenho apropriados.

Uma dessas possíveis iniciativas é o corporate venture capital, os fundos de capital de risco por meio dos quais as empresas adquirem participações minoritárias em startups, para fomentar o seu desenvolvimento. Em geral, os fundos de CVC têm um viés estratégico em seus investimentos, muito mais do que financeiro. Isto significa que a tese de investimentos costuma estar relacionada à busca de sinergias e não ao retorno financeiro procurado pelos fundos dedicados ao venture capital.

Antes dese estruturara área que vai rodar o CV C, três elementos devem estar presentes na empresa: 1. Estratégia de inovação aberta: tudo começa pelo desenho da estratégia. Ela deve ser debatida amplamente e, após o seu desenvolvimento, seu conteúdo deve ser disseminado e alinhado em todas as áreas da organização – e isso inclui o conselho de administração. O tema muitas vezes é novo para os conselheiros, e os resultados da inovação aberta demoram a aparecer. O planejamento orçamentário deve refletira estratégia definida, e os recursos devem estar devidamente alocados. O time responsável pela execução deve ter experiência no tema e senioridade compatível com os desafios.

2. Mindsetd ei novação aberta: acultura organizacional deve entender como funciona o desenvolvimento de uma startup e compreender o mindset de um empreendedor. A velocidade de reação da organização deve ser alta, para não haver descompasso com o ritmo das startups. As diferentes áreas da empresa devem ser capazes de priorizar as Pocs (provas de conceito), os pilotos com startups, o processo de onboarding das startups e o uso de suas soluções. As teses de investimento devem estar claras e alinhadas com a estratégia da empresa.

3. Maturidade em Inovação Aberta: não basta a empresa tero mindset adequado. Um fundo de CVCéo último estágio no relacionamento com startups. Ele exige maturidade no tema, exige tempo de atuação junto a esse ecossistema. A maturidade vai fazer com que a empresa tolere eventuais mudanças na estratégia da startup. Vai

fazer com que ela entenda como deve acompanhar o desenvolvimento do negócio, que indicadores deve olhar. E vai permitir que a empresa compreenda o que precisa fazer para apoiar e ajudar a alavancar o crescimento das startups.

Na prática, sabemos que não é sempre assim que as coisas acontecem. O caminho de se montar um CVC muitas vezes é decidido com base em motivações isoladas e nem sempre alinhadas ao conceito de inovação aberta. Por vezes, prevalece uma mentalidade predadora, típica de grandes empresas. É a lógica de investir num cavalo com potencial para ganhar a corrida, para então “matá-lo” antes que a corrida termine. Outras vezes a motivação é uma variação da anterior: mentalidade controladora. Neste caso, o objetivo não é matar a startup, mas controlar o seu desenvolvimento, para evitar que, no futuro, se torne uma ameaça. Em qualquer dos casos acima, costuma ser uma iniciativa de vida curta, pois o ecossistema acaba por expurgar naturalmente fundos com esse viés.

O importante é entender que o CVC não pode ser a única iniciativa da empresa para se aproximar do ecossistema de startups; que sua gestão não pode ser feita com o mindset de um fundo de ações ou mesmo de um private equity; que ele não é uma área de fusões e aquisições; que ele exige maturidade no relacionamento com startups e que isso costuma vir com o tempo e com a presença, na empresa, de ex-empreendedores que sabem como se pensa e se decide numa startup. Há muitos casos de CVCS bem-sucedidos – mas deve-se lembrar sempre dos muitos outros que não deram certo, por deixar de observar esses pontos fundamentais para a estratégia.

SUMÁRIO

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2021-09-01T07:00:00.0000000Z

2021-09-01T07:00:00.0000000Z

https://epocanegocios.pressreader.com/article/281505049320894

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